Em dezembro de 2019 uma nova doença, a síndrome respiratória aguda grave, causada pelo coronavírus 2 (SARS-CoV2), nomeada COVID-19, eclodiu a partir da China e rapidamente se disseminou por todo o mundo.  Várias complicações  foram relatadas em 33% dos casos: síndrome respiratória aguda grave, insuficiência renal aguda, dano pulmonar agudo, choque séptico e pneumonia grave.  Até o momento não existe tratamento específico ou vacinas aprovadas contra a COVID-19. O estado de imunossupressão de alguns pacientes com câncer (causado pela neoplasia ou por seu tratamento) aumenta o risco de infecção pelo coronavírus, quando comparados com a população em geral. O objetivo do trabalho é avaliar o impacto da COVID-19 nos pacientes com câncer e discutir as recomendações para a abordagem desses pacientes.

Pacientes com câncer tem risco aumentado para as infecções severas e uma probabilidade 3 a 5 vezes maior de necessitar de ventilação mecânica, de internação em UTI e de morte comparados com pacientes sem câncer.  Estes pacientes são mais suscetíveis para as complicações graves da COVID-19 devido à imunossupressão causada pelo próprio câncer ou seu tratamento. Pacientes com câncer, tratados com quimioterapia ou cirurgia nos 30 dias antes do diagnóstico da COVID-19 apresentam risco maior para as complicações severas da infecção.  Curioso é que os pacientes com câncer do pulmão não apresentam risco aumentado para as complicações graves da infecção comparados com os pacientes com outras neoplasias.

Durante a  pandemia  houve um aumento do risco para os  pacientes com câncer, devido à limitação do acesso aos cuidados de saúde impostos pelas restrições da COVID-19 na região de Wuhan. Outra publicação demonstrou que pacientes com câncer infectados pela COVID-19 tinham risco aumentado para complicações graves e maior mortalidade. Os autores do trabalho recomendam que os pacientes com câncer em tratamento devem ser rastreados para a COVID-19 e devem ser evitados tratamentos com imunoterapia naqueles pacientes infectados.

Diversas instituições internacionais estabeleceram orientações sobre os vários aspectos das neoplasias e seus tratamentos associadas a infecção da COVID-19.

Recomendações

  • Pacientes recebendo tratamento curativo para seu câncer devem continuar a terapêutica apesar do risco potencial da infecção pela COVID-19
  • Tratamento quimioterápico e procedimentos cirúrgicos eletivos devem ser adiados quando possível
  • Implementar precauções pessoais estritas para o controle da infecção para os pacientes com câncer em atividade ou naqueles já tratados e em controle
  • Tratamento intensivo para os pacientes com câncer e infectados pela COVID-19 especialmente os idosos e os portadores de comorbidades
  • O atraso no tratamento da doença metastática resulta na piora clínica do paciente, de sua capacidade funcional, no atraso no tratamento paliativo e da doença progressiva.
  • O tratamento cirúrgico deve ser avaliado caso a caso

O tratamento dos portadores de neoplasias é vital e deve ser prioritário durante a pandemia, uma vez que os serviços de saúde estão sobrecarregados com um número cada vez maior de infectados pela COVID-19, com maior demanda de insumos de uma maneira geral.

A avaliação clínica cuidadosa é o cenário determinante para se definir se devemos interromper ou continuar o tratamento anti-neoplásico dos pacientes com câncer, que estejam com suspeita ou com a infecção pela COVID-19 confirmada.

Fonte: AL-QUTEIMAT, O.M.; AMER, A.M. The Impact  of the COVID-19 Pandemic on Cancer Patients . American Journal of Clinical Oncology, v. 43 n. 6, p. 452-455, Jun. 2020. DOI: 101.1097/COC0000000000000712 Disponível em:  https://ncbi.nlm.nih.gov/pubmed32304435.